The Eye é um clássico disco conceitual
do King Diamond. Em sua carreira solo, o vocalista deixou de lado o
satanismo que era o tema principal de sua ex-banda, o Mercyful Fate,
para se dedicar a contar histórias de terror. Apenas dois de todos seus
discos solo não são totalmente conceituais, a saber, Fatal Portrait
(1996) e The Spider’s Lullabye (1995). Porém, mesmo esses álbuns ainda
possuem algumas músicas ligadas entre si.
A história de The Eye gira em torno de um colar conhecido como “O Olho da Bruxa”, ou simplesmente “O Olho”. Esse objeto tem poderes que permitem mostrar o passado para quem o usa e também causar a morte de quem o olhar diretamente. O álbum abre com “The Eye of the Witch” que apresenta ao ouvinte o colar e suas características. A canção foi o único single lançado do disco.
Depois disso temos “The Trial (Chambre Ardente)”, que conta o julgamento
de Jeanne Dibasson, uma suposta bruxa. O tribunal é comandado por
Nicholas de La Reymie, chefe da Chambre Ardente, ou Câmara Ardente, que
nada mais é que o órgão da Inquisição Francesa. A música na verdade é um
diálogo entre o investigador e a mulher. O clima da canção, com seu
riff pesado e arrastado, combina perfeitamente com o diálogo e os
eventos que ocorriam realmente nesse tipo de caso de suspeita de
bruxaria. No álbum todos os nomes dos personagens que são apresentados
são descritos como reais, como mostra o texto, traduzido, abaixo:
“As partes principais das histórias narradas
neste álbum são, infelizmente, verdadeiras
e ocorreram durante a inquisição francesa,
entre 1450 e 1670. Todos os personagens seguintes
são reais e pertencentes àquela época.”
neste álbum são, infelizmente, verdadeiras
e ocorreram durante a inquisição francesa,
entre 1450 e 1670. Todos os personagens seguintes
são reais e pertencentes àquela época.”
Como todos sabem, esses julgamentos na época praticamente tinham um fim
certo, a execução da bruxa. É o que descreve a música seguinte. Com seu
sugestivo título, “Burn”, conhecemos então o destino de Jeanne
Dibasson, o mesmo destino de diversas pessoas durante o período de
inquisição na Europa. Uma particularidade da Inquisição Francesa é que,
diferentemente da Espanhola e da Portuguesa, quem fazia a investigação
eram juízes de direito. Depois de julgada, aí sim a pessoa era passada
para a igreja, a fim de receber sua punição. Mas é claro que isso era
apenas uma mera formalidade.
“Two Little Girls” faz a conexão
entre a história de Jeanne Dibasson com a parte restante do disco.
Teclados sinistros acompanham a voz de King Diamond ao narrar a cena de
duas meninas que estão brincando em um local onde as bruxas eram
queimadas, quando encontram um colar no meio das cinzas. As duas garotas
brigam pela posse dele e uma delas, ao olhar fixamente para o objeto,
morre. Não há referências a isso, mas é coerente pensar que a garota que
ficou com o colar é Madeleine Bavent, personagem central da segunda
parte da história, que acontece em um convento em Louviers, que fica no
norte da França. A segunda parte da história inicia-se com “Into the
Convent” (não confundir com “Into the Coven”, clássico do Mercyful Fate)
que conta a história da freira, Madeleine, que era forçada pelo padre
Pierre David, capelão do convento, a participar nua de um ritual chamado
por ele de “comunhão”. Em um dos dias do ritual ela resolve colocar o
colar e padre David morre ao olhar para ele. “Into the Convent” é
musicalmente uma das melhores do álbum, destaque para os guitarristas,
que detonam nessa música.
O convento não pode ficar sem um
capelão, então padre Mathurin Picard (ou “Father Picard”, nome da faixa)
é o novo encarregado. Rapidamente ele escolhe quatro freiras que vão
participar com ele de uma “comunhão” (sim, novamente a tal comunhão).
Mas as freiras começam a ser controladas por padre Picard por meio de um
pó branco que ele adiciona no vinho que elas ingerem durante o ritual,
deixando-as sem lembranças e sem vontade própria. Na próxima canção,
“Behind These Walls”, Madeleine começa a ter alguns flashes e lembrar-se
vagamente de alguns acontecimentos dessa comunhão e fica se perguntando
o que acontece atrás desses muros do convento.
O mistério é
desvendado na faixa seguinte, “The Meetings”. O que acontece é nada mais
nada menos um ritual de sacrifício de recém-nascidos que são
crucificados por dois padres e quatro freiras, todos liderados por
Picard. Nessa hora nos lembramos do texto em que diz que os eventos
contados no álbum são verdadeiros. Sinistro...
Seguindo, temos uma
música instrumental chamada “Insinity”. Belo arranjo de violões,
acompanhando um solo cheio de melodia e muito bonito. Após acompanhar a
história sinistra que estávamos conhecendo, essa música serve para
aliviar a tensão da descoberta que tivemos ao saber dos bebês e da
crucificação. Também prepara o ouvinte para o desfecho da história.
Todos os que participavam dos rituais foram presos, é o que conta “1642
Imprisonment”. O solo no final dessa música é o mais fantástico do
disco. Madeleine Bavent, agora presa, sente-se mais livre libertando-se
do inferno que era sua vida.
O disco encerra com “The Curse” que
tem o objetivo de fechar a história dizendo que o poder do “Olho” vai
sempre continuar. Como na primeira faixa a pessoa estava voltando ao
passado, podemos dizer que agora ela está retornando ao presente e assim
acaba a história.
Ouça o disco: King Diamond - The Eye
Ouça o disco: King Diamond - The Eye
Texto por: Fernando Bueno